Mesmo com direitos garantidos por lei, a maioria dos idosos enfrentam a realidade de serem excluídos da sociedade
O envelhecimento é um fenômeno biológico, psicológico e social que atinge o ser humano na plenitude da sua existência, modificando sua relação com o tempo, com o mundo e com sua própria história. Assim, que chega aos 60 anos, são de certo modo, desprezados e excluídos da sociedade. Os idosos sentem na pela o retrato mais fidedigno do desprezo e da iniquidade.
O aumento da longevidade e a redução das taxas de mortalidade, nas últimas décadas do século passado, mudaram o perfil demográfico do Brasil. Rapidamente deixamos de ser um “país de jovens” e o envelhecimento, a princípio, deveria ser uma questão fundamental para as políticas públicas.
A participação de idosos na população brasileira aumentou significativamente entre 1999 e 2009, um crescimento de aproximadamente 6 milhões de idosos ( pessoas com mais de 60 anos de idade). O dado faz parte da Síntese de Indicadores Sociais 2010 e retrata a tendência de envelhecimento da população brasileira. Hoje a expectativa do brasileiro é em média 75 anos.
Mesmo com todas as circunstâncias a favor do idoso que proporcionaram o aumento da expectativa de vida, volta e meia encontramos relatos de abando, humilhação, tortura. As famílias ainda não conseguem encarar a “velhice”, muitas por medo, outros não conseguem encarar um mal que está aparecendo com mais freqüência: o Alzheimer.
O Alzheimer é uma forma comum da demência. É uma doença degenerativa e que ainda não tem cura. Atinge normalmente pessoas com mais de 60 anos. O sintoma mais comum é a perda da memória. O que torna o convívio muito difícil com a família
Dia a dia
A aposentada Zuleide Rodrigues Rocha tem 74 anos e reclama que para quem é independente, fica complicado admitir a terceira idade. “É muito complicado admitir que sou idosa. Sempre fui independente, e continuo saindo sozinha, pego ônibus, mas sempre tenho medo de atravessar as ruas, os motoristas não tem respeito, não dão passagem”, frisou a aposentada.
Ela conta ainda que sofreu uma queda quando estava caminhado na calçada, devido as irregularidades dos passeios públicos. “Estava sozinha quando cai, a calçada estava com vários buracos e eu não consegui me livrar de todos. Tive sorte de não ter quebrado nada”, desabafa a Srª. Zuleide.
Para tentar driblar os “males da velhice” a aposentada faz atividades físicas, caminhada todas as manhãs dentro do condomínio onde mora com a família. “Tenho que me cuidar, principalmente da minha saúde que já não é mais a mesma”, afirma a aposentada.
A maioria dos idosos reclamam, frequentemente, dos custos com remédios, o que compromete quase toda a aposentadoria. Mesmo com a ajuda que o governo oferece, em muitos casos eles não conseguem comprar todos os remédios que precisam, e com a carência de certos medicamentos na rede pública, a única alternativa é esperar.
Já o idoso Benedito dos Santos, preferiu se afastar do convívio da família, “Não confio na minha família, eles sempre quiseram meu dinheiro. Vi um caso recente de uma mulher que deixou a fortuna para a sua cadela, se eu tivesse uma também faria a mesma coisa”, desabafa Benedito.
Ele conta ainda que sua caminhada não foi fácil, e que sempre batalhou, possui duas empresas e imóveis, porém não tem herdeiros, e hoje briga na justiça para que sua família não desfrute dos bens. “Me isolei dos que se dizem “minha família”, é muito ruim quando as pessoas estão perto de você por conta de dinheiro. Ele só traz conforto, mas não felicidade. Por isso que não deixo nada pra ninguém”, frisou o empresário Benedito Ramos.
O idoso. identificado apenas como José, de 66, fala que foi abandonando pelo filho, que além de abandonar, deixou o pai na rua sem dinheiro. “Só tinha meu filho, e ele foi embora, levou os documentos que eu tinha. Já tentei ir para um desses abrigos, mas como não tenho dinheiro, nenhum me quer. Só Deus está comigo”, desabafa o morador de rua José.
Asilo
A palavra ‘abrigo’ e ‘asilo’ não é mais utilizada para identificar o local que muitos idosos preferem ou simplesmente são obrigados a passar o resto de suas vidas. Hoje esse termo deu lugar a casa de longa permanência. Em Alagoas são poucas as casas que funcionam com o mínimo de decência com o ser humano.
Essas casas sobrevivem, em sua maioria, de doações, porém os idosos que possuem condições financeiras para pagar, ajudam com o dinheiro da aposentadoria, a manter a estrutura das Casas. Um exemplo disso é a “Casa do Pobre”, localizada no bairro do Vergel do Lago, que abriga 80 idosos.
De acordo com a irmã Marilene, que cuida e organiza a Cada do Pobre, o limite mínimo de idade para o idoso conseguir entrar na Casa é de 60 anos. A instituição vive de doações e da ajuda de custo de cada morador do lar, que é o dinheiro da aposentadoria.
“Hoje a Casa do Pobre está com funcionando com o limite máximo, vivemos de doações de pessoas anônimas, do governo e do valor mínimo de aposentadoria de cada morador do lar. Mas infelizmente muitas vezes enfrentamos necessidades”, relatou a irmã Marilene.
Mas esse é um lar que possui qualidade, e atende as necessidades dos idosos. Porém essa é uma realidade muito diferente de outras instituições, que não conseguem atender a demanda, superlotam os locais e não consegue oferecer o mínimo de conforto.
“Além das dificuldades, também enfrentamos o abandono. Tem família que chega deixa seus parentes aqui e nunca mais aparecem. Isso é muito ruim para o idoso, que em sua maioria desencadeia um quadro de depressão”, desabafa a coordenadora da Casa do Pobre, Marilene.
Muitos idosos não conseguem vaga nessa casas de longa permanência, ou pelo fato de não ter condições financeiras para pagar ou porque as casa não tem vaga. A Secretaria Municipal de Assistência Social não permite que essas instituições recebam pessoas que menos de 60 anos, para que a casa não fuja do foco, que são os idosos.
“Essas casas são para os idosos, idade compreendida de 60 anos para cima. O que antes não acontecia. Nós temos a ciência que não são apenas os idosos, mas pessoas com certas limitações físicas e psicológicas que também precisam das casas de longa permanência, já que as famílias ou abandonam ou não tem condições para cuidar. O fato é que em nosso Estado, há poucas casas que abrigam essas pessoas, e com isso, temos que fazer certos tipos de restrições”, frisou o secretário municipal de assistência social, Francisco Araújo.
Mas há vários idosos vivendo em condições precárias nas ruas, sem casa, moradia, carinho, remédio. Ficam a mercê do próprio destino, a espera de família, e do principal: uma maior atuação do Poder Público, com estes que a sociedade infelizmente exclui.
Família
A maior dificuldade que os idosos enfrentam é o abandono da família. Muitos por não saber lidar com o envelhecimento, não têm paciência, e acabam desprezando. Outros passam do limite, e chegam a agredir fisicamente e psicologicamente.
Em 1994 o Brasil cria o Estatuto do Idoso, sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que surge como excelência para garantir os direitos fundamentais e até o estabelecimento de penas para crimes mais comuns cometidos conta pessoas idosas.
A Lei 8.842, no seu Art. 3ª diz que é obrigação da família, comunidade, sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar. Porém, percebemos que essa lei ainda não consegue garantir de fato os direitos conquistados por Lei. Ainda há carência do Poder Público para que seja feita uma maior fiscalização e assim, que possa ser garantido para quem tem mais de 60 anos uma maior qualidade.
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