Quem já não ouviu falar do carnaval na Praça Moleque Namorador? Dos parques de diversão na Praça da Faculdade? Ou até mesmo das grandes festas na Praça Lucena Maranhão e na Praça dos Martírios? Fim de tarde, crianças brincavam no parquinho, adultos conversavam, jogo de baralho entre amigos, assim era o dia-a-dia das pessoas que frequentavam as praças de Maceió entre as décadas de 1950 e 1970. Nesse período as praças eram sinônimos de lazer e interatividade entre os moradores da comunidade, hoje são sinônimos de abandono e violência.
As pessoas que viveram naquela época lembram que as praças eram local de encontros, onde muitos casamentos tiveram início a partir das paqueras nos bancos das mesmas. “Conheci meu marido quando tinha 15 anos no Carnaval da Praça Moleque Namorador, foi lá que começamos a namorar. A partir daí nossos encontros eram sempre na pracinha”, relembrou dona Maria das Neves de 75 anos, que comemora este ano seus 60 anos de casamento.
Já o funcionário público federal, Jalmo Lima, 50, lembra com certo saudosismo os tempos que podia frequentar as praças de Maceió sem se preocupar com a violência. Na época era comum encontrar festas, parque de diversão, apresentação de pastoril e carro de algodão doce. Após a missa as famílias conversavam na praça até 1h da manhã sem presenciar qualquer ato de violência. “Hoje fico triste quando passo e vejo como tudo está diferente. Até a estátua de um menino abrindo a boca do jacaré foi depredada pelos vândalos”, ressalta com tristeza o servidor público.
As praças que ficam no centro da cidade são as mais afetadas pela violência. A dos Martírios foi invadida por moradores de rua. São famílias que fazem do espaço moradia: “lavam” roupas no chafariz, dormem e se alimentam dos restos que pegam no lixo ou esmolas que recebem de populares, além de realizarem suas necessidades fisiológicas no próprio espaço. Porém o mais agravante é o consumo e tráfico de cola e crack no local. “A fiscalização não consegue atuar nas Praças porque são cheias de ambulantes e moradores de rua. Infelizmente são problemas que não são resolvidos do dia pra noite”, frisa o diretor de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente, José Rubens.
A Praça Deodoro já foi um dos mais belos cartões-postais do Centro de Maceió, de acordo com registros fotográficos que datam de cerca de meio século passado. Entretanto, hoje o local passa por uma situação de caos: moradores de rua, vendedores ambulantes, sujeira, mau-cheiro decorrente dos dejetos lançados pelos habitantes da praça; uma verdadeira desordem. Segundo o desembargador do Tribunal de Justiça Alcides Gusmão da Silva, após visitar a praça no dia 16 de abril deste ano, disse que iria tomar uma atitude para solucionar a situação “Temos de estudar uma forma eficaz para solucionar definitivamente essa situação da Praça Deodoro, de maneira a assistir esses moradores de rua com os direitos básicos de cidadania", frisou.
De acordo com o levantamento feito pela Secretaria Municipal de Assistência Social, através do Projeto Guardião, 30 pessoas “moram” na Praça Deodoro em situação de risco. 90% desse grupo são usuários de drogas, fator determinante para que permaneçam nas ruas. Uma equipe da Prefeitura Municipal de Maceió já esteve no local para encaminhar essas pessoas para abrigos e Centro de Referência e Assistência Social (CRAS). Entretanto, o coordenador do projeto Arnaldo Capela, ressalta que é necessário ter cautela na abordagem, uma vez que elas não podem ser retiradas a força.
A Praça Sinimbu há muito tempo deixou de ser um espaço de lazer para ser um acampamento dos movimentos sociais de luta pela reforma agrária. É um lugar para protestos que muitas vezes é depredado por aqueles que o ocupam. Segundo o diretor de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente, José Rubens, fica difícil impedir o acesso de manifestantes, pois os prédios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) ficam próximos a Praça. Mesmo assim, existe um projeto para reforma da Sinimbu na Secretaria Municipal de Planejamento.
Revitalização das Praças
Em 2007, foi criado um projeto de infra-estrutura que visa recuperar as praças públicas de Maceió, das 154 existentes na capital alagoana, 62 foram completamente recuperadas; elas receberam tratamento de restauração de passeio, pintura, canteiro, iluminação, manutenção das árvores, grama em placas e bancos. Além da recuperação das praças a Prefeitura de Maceió recuperou ainda doze mirantes, as obras garantem um melhor visual dos espaços, devolvendo os pontos turísticos da capital.
A Praça Centenário foi uma das contempladas com processo revitalização. Hoje ela está iluminada, com jardins bem cuidados, calçamento, brinquedos e bancos pintados. Ela que era esquecida e sem brilho, com os investimentos do poder público foi possível resgatar a magia das Praças de antigamente. Entretanto, o medo da violência faz com que, cada vez mais, as famílias fiquem presas nas suas casas e o que poderia ser um ponto de encontro termina sendo um lugar abandonado pela falta de segurança. O símbolo que uniu várias gerações, hoje é temido pela sociedade.
Crédito: Michelle Farias
meninos de rua cheiram cola em plena luz do dia
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