quarta-feira, 28 de abril de 2010

Praças: um espaço abandonado

A violência que toma conta de Maceió afasta cada vez mais a população dos logradouros públicos

Quem já não ouviu falar do carnaval na Praça Moleque Namorador? Dos parques de diversão na Praça da Faculdade? Ou até mesmo das grandes festas na Praça Lucena Maranhão e na Praça dos Martírios? Fim de tarde, crianças brincavam no parquinho, adultos conversavam, jogo de baralho entre amigos, assim era o dia-a-dia das pessoas que frequentavam as praças de Maceió entre as décadas de 1950 e 1970. Nesse período as praças eram sinônimos de lazer e interatividade entre os moradores da comunidade, hoje são sinônimos de abandono e violência.


As pessoas que viveram naquela época lembram que as praças eram local de encontros, onde muitos casamentos tiveram início a partir das paqueras nos bancos das mesmas. “Conheci meu marido quando tinha 15 anos no Carnaval da Praça Moleque Namorador, foi lá que começamos a namorar. A partir daí nossos encontros eram sempre na pracinha”, relembrou dona Maria das Neves de 75 anos, que comemora este ano seus 60 anos de casamento.

Já o funcionário público federal, Jalmo Lima, 50, lembra com certo saudosismo os tempos que podia frequentar as praças de Maceió sem se preocupar com a violência. Na época era comum encontrar festas, parque de diversão, apresentação de pastoril e carro de algodão doce. Após a missa as famílias conversavam na praça até 1h da manhã sem presenciar qualquer ato de violência. “Hoje fico triste quando passo e vejo como tudo está diferente. Até a estátua de um menino abrindo a boca do jacaré foi depredada pelos vândalos”, ressalta com tristeza o servidor público.

As praças que ficam no centro da cidade são as mais afetadas pela violência. A dos Martírios foi invadida por moradores de rua. São famílias que fazem do espaço moradia: “lavam” roupas no chafariz, dormem e se alimentam dos restos que pegam no lixo ou esmolas que recebem de populares, além de realizarem suas necessidades fisiológicas no próprio espaço. Porém o mais agravante é o consumo e tráfico de cola e crack no local. “A fiscalização não consegue atuar nas Praças porque são cheias de ambulantes e moradores de rua. Infelizmente são problemas que não são resolvidos do dia pra noite”, frisa o diretor de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente, José Rubens.

A Praça Deodoro já foi um dos mais belos cartões-postais do Centro de Maceió, de acordo com registros fotográficos que datam de cerca de meio século passado. Entretanto, hoje o local passa por uma situação de caos: moradores de rua, vendedores ambulantes, sujeira, mau-cheiro decorrente dos dejetos lançados pelos habitantes da praça; uma verdadeira desordem. Segundo o desembargador do Tribunal de Justiça Alcides Gusmão da Silva, após visitar a praça no dia 16 de abril deste ano, disse que iria tomar uma atitude para solucionar a situação “Temos de estudar uma forma eficaz para solucionar definitivamente essa situação da Praça Deodoro, de maneira a assistir esses moradores de rua com os direitos básicos de cidadania", frisou.

De acordo com o levantamento feito pela Secretaria Municipal de Assistência Social, através do Projeto Guardião, 30 pessoas “moram” na Praça Deodoro em situação de risco. 90% desse grupo são usuários de drogas, fator determinante para que permaneçam nas ruas. Uma equipe da Prefeitura Municipal de Maceió já esteve no local para encaminhar essas pessoas para abrigos e Centro de Referência e Assistência Social (CRAS). Entretanto, o coordenador do projeto Arnaldo Capela, ressalta que é necessário ter cautela na abordagem, uma vez que elas não podem ser retiradas a força.

A Praça Sinimbu há muito tempo deixou de ser um espaço de lazer para ser um acampamento dos movimentos sociais de luta pela reforma agrária. É um lugar para protestos que muitas vezes é depredado por aqueles que o ocupam. Segundo o diretor de Parques e Jardins da Secretaria Municipal de Proteção ao Meio Ambiente, José Rubens, fica difícil impedir o acesso de manifestantes, pois os prédios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) ficam próximos a Praça. Mesmo assim, existe um projeto para reforma da Sinimbu na Secretaria Municipal de Planejamento.

Revitalização das Praças

Em 2007, foi criado um projeto de infra-estrutura que visa recuperar as praças públicas de Maceió, das 154 existentes na capital alagoana, 62 foram completamente recuperadas; elas receberam tratamento de restauração de passeio, pintura, canteiro, iluminação, manutenção das árvores, grama em placas e bancos. Além da recuperação das praças a Prefeitura de Maceió recuperou ainda doze mirantes, as obras garantem um melhor visual dos espaços, devolvendo os pontos turísticos da capital.

A Praça Centenário foi uma das contempladas com processo revitalização. Hoje ela está iluminada, com jardins bem cuidados, calçamento, brinquedos e bancos pintados. Ela que era esquecida e sem brilho, com os investimentos do poder público foi possível resgatar a magia das Praças de antigamente. Entretanto, o medo da violência faz com que, cada vez mais, as famílias fiquem presas nas suas casas e o que poderia ser um ponto de encontro termina sendo um lugar abandonado pela falta de segurança. O símbolo que uniu várias gerações, hoje é temido pela sociedade.
Crédito: Michelle Farias

meninos de rua cheiram cola em plena luz do dia

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