-“Gente vamos fazer um acordo? Eu dou boa tarde e vocês respondem para eu não passar vergonha. Boa tarde pessoal! Gente a razão que me trás aqui é situação de muito brasileiros, o desemprego. Eu tou aqui pedindo uma ajuda pra sustentar a mim e a minha família...”
Essas são as palavras constantes ouvidas no ônibus que fazem a linha da capital alagoana. Quando os execrados da sociedade não estão vendendo algum produto eles simplesmente pedem mesmo, afinal, esta é a única alternativa que eles encontraram para pelo menos amenizar a fome.
Como faço uso dos coletivos públicos para me locomover para o trabalho, volta e meia me deparo com situações engraçadas. Uma delas me recordo bem. Um dia ensolarado, e eu atrasada para uma entrevista de emprego, falava ao celular com a recepcionista, informando que teve um acidente e que chegaria um pouco depois do horário. Mas em meio a conversa, sobe uma menina, magrela, aparentado ter uns oito anos, muito suja e com uma roupa bem menor que seu manequim. Do nada a magrelinha começou a berra que até quem estava do lado de fora e do outro lado da rua escutou.
-“No dia em que sai de casa me mãe me disse filho vem cá. Passou a mão nos meus cabelos olhou em meus olhos começou a chorar...” A letra da música da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano saía em um agudo tão forte que eu não conseguia ouvir a conversa que estava tendo. A recepcionista do outro lado da linha.
-Minha querida não precisa cantar não, eu vou avisar ao chefe do Recursos Humanos que você vai se atrasar, e enxugue suas lágrimas para não fazer a entrevista com cara de choro e inchada.
–Mas eu não estou cantando nem chorando moça, é apenas... Ela nem deixou eu completar foi logo batendo o telefone na minha cara. Na hora morri de raiva da magrelinha que não parava de berrar, mas quando vi a situação dela, fiquei com um sentimento que não suporto sentir: Pena.
Dei a ela uns trocados que tinha na bolsa, ela agradeceu e saiu enxugando as lágrimas
Desci do ônibus e fui em direção a tal empresa, pensando: “O que será que a mulher está pensando. Na certa ela deve está achando que sou maluca, que chora por tudo...”
Ao chegar à empresa, a recepcionista me encaminhou para o Recursos Humanos, e não disse nada. Achei que ela não tinha dado importância à conversa que tivemos. Pensei: “Foi apenas impressão minha”.
Quando entro na sala tinha uma mulher alta e forte de jaleco, ela pediu que eu sentasse. Estava nervosa, fiquei ainda mais.
- Fique a vontade. Quer tomar uma água, café? Como foi seu dia hoje? Você está passando por algum momento difícil? Precisa de ajuda?
Nossa! Não entendi onde ela queria chegar com aquela conversa. Quando olhei mais atenta para o nome que estava escrito no jaleco: Flávia Moura, psicóloga. Entrei em pâni. A recepcionista contou sobre a conversa que tivemos. A psicóloga estava supondo que eu estava passando por um problema difícil!
Que ironia! Ganhei uma consulta gratuita no divã.
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